Acordei
na manhã seguinte (mas poderia muito bem já ter passado vários dias) sentindo
uma tremenda dor de cabeça e com o corpo todo dolorido, num quarto bem pequeno.
Eu não fazia a menor ideia de onde estava. Meus pensamentos estavam meio
confusos (na verdade estavam muito confusos) por causa das coisas que tinham
acontecido na noite anterior.
Eu
tinha mesmo visto um lobisomem? Onde eu estava? Quem era aquela mulher que
tinha me protegido ou pelo menos tentado? Aquilo tinha sido real?
Sentei
na cama para reparar melhor onde estava. O quarto não tinha nada demais para
falar a verdade. De um lado tinha um guarda-roupas e do outro um gaveteiro. Ah,
e o quarto era de madeira.
Mas
tinha uma janela.
Comecei
a olhar pela janela para tentar saber onde estava. Do lado de fora, havia uma
enorme floresta. Arvores e todo tipo de mata davam vida ao cenário que era
praticamente branco por causa da neve e bem ao longe havia um rio ou lago. (Eu
nunca aprendi qual era a diferença)
Então
a porta se abriu e a mulher loira entrou.
– Bom dia, Christopher. Como
está se sentindo? – Ela perguntou o mais naturalmente possível. Sua voz era
doce.
COMO
EU ESTOU? EU FUI ATACADO POR UM LOBISOMEM SUA MALUCA!
Mas
eu apenas disse:
– Ãhh... Eu não sei. Quem
é você? Onde estou?
– Não precisa ficar com
medo. Meu nome é Aline. Você está em Algonquin Park agora.
Algonquin
Park? Agora estava explicado o porquê de tanta mata. O algonquin Park é um
parque (ou uma floresta. Talvez as duas coisas, pensem o que quiserem)
provincial que fica localizado entre Georgian Bay e o rio Ottawa em Ontario.
Sua extensão é imensa. Sua área tinha aproximadamente 7, 653 km quadrados (eu
sabia disso porque já tinha lido sobre o parque uma vez), sua vegetação era bem
diversificada e havia até alguns animais nele.
– Aquela coisa que me
atacou ontem, o que era aquilo? – Perguntei, já prevendo a resposta. E que
resposta...
– Acredite em mim. Aquilo
era um lobisomem.
Ok!
Imaginei que estava ficando louco. Lobisomens só existiam em filmes e livros,
não era?!
– Por que me trouxa pra
cá? – Perguntei tentando tirar aquela informação bizarra da cabeça.
– Aqui, no momento, e o
lugar mais seguro pra você estar. – Ela falou de maneira calma. (Para uma
pessoa que havia lutado contra um lobisomem imenso um dia antes, essa mulher
era calma até demais). – Você está em um clã. Um clã de vampiros.
Ah,
beleza! Aquilo foi á gota d’água. Aquela mulher estava me achando com cara de
idiota, só pode. Lobisomens, vampiros aquilo era muita coisa para um dia só. Na
verdade, aquilo era muita coisa para uma vida toda.
– Olha, eu não posso negar
o que eu vi ontem. Não sei se era um...
Lobisomem
ou não, mas vampiros? Quer mesmo que eu acredite no que você está falando?
Ela
me encarou fixamente por um segundo. Parecia estar me avaliando. Agora que ela
estava de frente, reparei que seus olhos eram azul oceano. Seu rosto era lindo.
Aquela mulher era de uma maneira esquisita e tentadora, diferente das outras
mulheres. Não só pela beleza. Ela tinha algo mais...
– Acredite se quiser! Mas
você também tem sangue de vampiro Christopher. Seus pais eles eram...
– Meus pais – eu interrompi – você conheceu
meus pais?
– Conheci. Seus pais
viviam aqui, nesse mesmo clã. Eles eram vampiros também. O sangue de vampiro corre
por suas veias.
Meus
pais... Uma dor enorme invadiu meu ser. A dor da saudade. A dor da perda. Umas
das piores coisas da vida e não ter seus pais vivos, para poder te
aconselharem, para brigarem com você, para te amarem...
As
lagrimas caíram de meus olhos de maneira natural e pela primeira vez eu não
estava nem ai se alguém estava vendo.
–
Eu sinto muito pela sua perda, Christopher! – Ela continuou. – Saiba que seus
pais eram pessoas do bem. Eles amavam você.
– Como eles morreram? –
Perguntei.
– Antes de você nascer, os
lobisomens ordenaram um massacre a nosso clã. – ela explicou. – Por sorte do
destino ou não, sua mãe acabou sabendo do ataque e o levou para morar com sua
tia para que ela pudesse te proteger. Logo depois ela voltou ao clã e... – a
voz dela falhou. Resolvi não tocar mais no assunto. Pelo visto era difícil para
ela falar no assunto. E também era difícil para mim ouvir.
– Ok, Ok! Então, digamos
que eu acredite mesmo em você. – Eu disse, secando as lagrimas. – Então por que
nunca senti nada diferente em mim? Quer dizer, se eu tenho sangue de vampiro em
mim era para mim ser muito forte ou algo assim, não é?
– Eu disse que você tem
sangue de vampiro, mas não disse que você é um. Você tem que completar a
transformação.
Bom,
até que o que ela falava fazia sentido. Eu estava mesmo acreditando nas
palavras dela.
Talvez
eu seja realmente maluco, pensei.
– Eu acredito em você! –
Falei. – Não acho que tenha sido por acaso. Mas então, como faço para completar
a transformação? Se meus pais eram vampiros, quero ser um também, assim poderei
vinga-los.
Aline
sorriu. Não sei porque, mas ela sorriu.
– Vejo que você tem a
mesma coragem de seus pais. Isso é bom. Mas não será tão fácil assim, Christopher.
– E porque, não? Eu só
preciso matar o desgraçado que matou eles...
– E você acha que vai
consegui matar uma alcateia inteira de lobos? Vai por mim, Christopher, nós já
tentamos muitas vezes e falhamos. Não acho que agora será diferente.
Ah,
que ótimo! Como você é otimista, Aline, pensei. Mas de uma coisa eu tinha
certeza. Agora que sabia quem tinha assassinado meus pais, não iria parar até
mata-lo.
– Então o que estamos
esperando? – Mudei de assunto. – Como me transformo em vampiro? Ah, e mais
importante: não vai doer, vai?