Vampiros, a legião
Matheus Galvão
Sinopse: Olá,
meu nome é Christopher. Se estiverem lendo isso, suplico a vocês para que
nunca, nunca mesmo, desejem ser um vampiro. É claro que tem o lado bom, como ter
super força, super velocidade e até super sentidos, mas também tem o lado ruim.
Perdi meus pais por isso, perdi meu emprego e quase perdi a minha vida. Sempre
que desejarem ser alguma coisa, não veja só o lado bom disso. Veja o lado ruim
também. Às vezes o lado ruim não compensa o lado bom. Na minha vida foi assim.
Pense em ter que trabalhar numa empresa
multinacional e mega famosa... Deve dar dor de cabeça, certo? Agora imagina ter
que trabalhar como atendente de segunda a sexta das 10h as 21h30min e sábado
das 09h30min ás 21h30min, ter que aguentar as criticas, os desaforos e as
reclamações dos clientes.... Ainda mais dor de cabeça, né!? Mas acreditem,
ainda vai piorar.
Agora, imaginem ter que morar com sua tia,
que te maltrata todo dia, reclama de tudo que você faz e tenta sugar todo seu
dinheiro para gastar em bebidas... Bem, essa era praticamente a minha vida.
A empresa, ou melhor, a famosa empresa onde
eu trabalhava era a Apple Store. Eu tinha que dar duro todo dia, caso
contrario, seria demitido. Ainda mais que eu era novato com recém completados 5
meses de trabalho. A pressão era tanta que às vezes eu cheguei a achar que até
a morte seria melhor. Pelo menos eu ia descansar.
Ou não!
Eu morava com minha tia Lúcia (uma mulher de
45 anos, com a pele toda flácida, barriga de chopp e os cabelos bem maltratados)
desde a morte dos meus pais. Ou seja, eu nunca morei com meus pais, pois eles
morreram quando eu ainda era um bebê.
Vivíamos num bairro chamado Lawrence Park, no
norte de Toronto, no Canadá. Era um bairro bonito e tranquilo, com casas (tanto
pequenas como grandes e a maioria muito bem decoradas) em todo lugar, lindos
jardins em frente à maioria das casas, quadras esportivas, árvores de vários
tipos e tamanhos e algumas casas que pareciam realmente mansões de tão lindas
que eram. Em outras palavras, o bairro era lindo, tanto que foi classificado
como o bairro mais rico do Canadá em 2011.
Do meu emprego para minha casa eu gastava
aproximadamente 40 minutos de transporte público (Os transportes públicos do
Canadá eram um dos melhores do mundo, disso eu não podia reclamar.).
Minha tia tinha certas regras na casa (não me
perguntem por que já que só morava eu e ela na casa e eu não era do tipo
baladeiro) e uma dessas regras era “esteja em casa antes da meia noite, caso
contrario, dormirá na rua”, era exatamente assim que ela falava.
Eu quase nunca, nunca mesmo, conseguia
cumprir a regra do horário, mas ela não podia me culpar. Muitas das vezes,
depois do trabalho o pessoal marcava para ir tomar uma bebida ou algo do tipo e
eu não queria ser o novato antissocial que recusava.
Naquele dia, eu cheguei em casa quase uma
hora da manhã. Mas quem sabe ela já tivesse ido dormir e nem veria eu chegando,
pensei, mas me enganei.
Quando abri a porta, ela estava lá, sentada
no sofá, vendo TV (com certeza para não dormir e poder me infernizar mais um
pouco).
– Vejam só quem chegou. Meu querido sobrinho,
Christopher.
– Ela falou com a voz cheia de escárnio. Ela tinha prazer em me infernizar.
– Olha tia eu realmente não quero discutir
com você hoje... – Tentei amenizar a situação para meu lado. Eu tinha tido um
dia longo no trabalho e não estava mesmo a fim de discutir com ela. Na verdade,
eu só queria mesmo era me jogar na cama e dormir muito.
– Eu estou cansada de ter que repetir as
regras da casa pra você seu moleque ingrato. O horário de chegar em casa é
antes da meia noite e você sabe disso. – cuspiu ela.
– Eu sei muito bem dessas suas malditas
regras, mas quer saber, eu não dou a mínima para elas! Acho que você ainda não
se deu conta de que só mora eu e você nessa maldita casa! – Gritei. – Se for
para continuar desse jeito eu vou embora. Não vou mais ouvir reclamações suas.
Sou eu que ajudo nas despesas da casa, eu que ajudo no aluguel. O que você quer
mais?
Foi a primeira vez que falei desse jeito com
ela. Seus olhos estavam esbugalhados de surpresa. Se ela algum dia pensou que
eu nunca iria me rebelar contra suas malditas regras, contra seu jeito horrível
de me tratar, ela se enganou completamente. Eu sofria desde novo por ter
perdido meus pais. Sofria pelo jeito como ela me tratava. Já estava na hora de
fazer alguma coisa.
Eu não
queria gritar com ela, só queria ser amado. Só queria ser valorizado. Na
verdade, eu só queria que meus pais estivessem vivos...
– Pode ir embora! – Ela falou calmamente. –
Não quero que pise os pés nessa casa nunca mais!
– Tudo bem. Eu vou embora, mas nunca mais
você vai me ver. Eu nunca mais quero ouvir sua voz de novo!
Eu estava fervendo de raiva. Eu queria mesmo
era xingá-la bem alto, para o quarteirão todo poder ouvir, mas não valeria a
pena. Já tinha ouvido falar que nunca devemos tomar decisões quando estivermos
com raiva e nesse momento eu estava com muita.
Fui para meu quarto e fechei a porta ao
entrar. Meu quarto estava completamente bagunçado (homens não ligam muito para
organização) tinha roupas jogadas por todos os lados, caixas de pizza, revistas
espalhadas pela cama e muito mais. Estava uma zona total.
Peguei minha bolsa de viagem dentro do
guarda-roupas e comecei a pensar no que iria levar. Roupas obviamente. Peguei
as roupas que estavam jogadas pelo quarto e coloquei o máximo que consegui
dentro da bolsa. (Claro que elas estavam todas amassadas). Quebrei meu cofrinho
e guardei o dinheiro no bolso, peguei alguns livros também e mais algumas
outras coisas. (Graças a Deus que eu não tinha nascido mulher, pois seria muito
mais complicado arrumar tudo).
Sai do quarto e tia Lúcia ainda estava na
sala batendo os pés. (Para uma mulher com uma barriga daquele tamanho, até que
ela era resistente).
Trocamos um breve olhar por poucos segundos
antes dela falar:
– Pegou tudo?
– Sim!
– Então pode ir!
No relógio do meu pulso marcava quase 02h da
manhã. Mesmo assim, era melhor enfrentar o mundo lá fora sozinho e com frio do
que continuar vivendo com aquela mulher infeliz.
Passei
por ela sem dizer uma única palavra enquanto ela me encarava com os olhos
fervendo de raiva por ter sido desafiada. Cheguei á porta, abri e respirei
fundo.
Estava frio, muito frio do lado de fora e eu
não estava vestindo casaco.
Você consegue, pensei.
Então sai, deixando minha casa, meu quarto bagunçado e
minha tia para trás, para enfrentar o frio e a noite de Toronto.
Sozinho!